circo de mim
Fio-me na horrenda conclusão de que eu me basto. Recuo de terror, me engasgo, ergo o mastro, estendo o picadeiro, congregando em mim mesmo meus mágicos, minha linda equilibrista sobre o cavalo, meu mestre-de-cerimônias, meus palhaços. Repentinamente, inicio o ato e não mais me encontro. Distante da tenda, os ventos uivam para além da música, para além do carnaval e da picardia, do sorriso das crianças, da pipoca. Um deserto me assombra em torno dessa ilha de alegria. Infindas paragens. Desmonto a tenda. O circo viaja ao redor das devolutas paisagens, meninos desgarrados juntam-se à caravana, velhos trapezistas são deixados à beira da estrada. O engolidor de facas se amasia com a mulher barbada e abandonam o ato, muitos outros se intercambiam nessa nau dos insensatos, e tudo em mim. Circo de mim caminha. À noitinha, inicio o espetáculo, combatendo os holofotes a treva densa, a fanfarra contra a paz de tudo o que é morto, a algazarra dos santos beberrõ...