circo de mim


Fio-me na horrenda conclusão de que eu me basto.
Recuo de terror, me engasgo,
ergo o mastro, estendo o picadeiro,
congregando em mim mesmo meus mágicos,
minha linda equilibrista sobre o cavalo,
meu mestre-de-cerimônias, meus palhaços.
Repentinamente, inicio o ato e não mais me encontro.

Distante da tenda,
os ventos uivam
para além da música,
para além do carnaval e da picardia,
do sorriso das crianças, da pipoca.
Um deserto me assombra
em torno dessa ilha de alegria.
Infindas paragens.

Desmonto a tenda. O circo viaja
ao redor das devolutas paisagens,
meninos desgarrados juntam-se à caravana,
velhos trapezistas são deixados à beira da estrada.
O engolidor de facas se amasia com a mulher barbada e abandonam o ato,
muitos outros se intercambiam nessa nau dos insensatos,
e tudo em mim.

Circo de mim
caminha.

À noitinha, inicio o espetáculo,
combatendo os holofotes a treva densa,
a fanfarra contra a paz de tudo o que é morto,
a algazarra dos santos beberrões
contra a tirania dos ascetas. Dos homens práticos.
Dos alferes de vila, que exigem alvarás, licenças, cartas de conduta
aos ciganos que nasceram sem certidão alguma.
Força vital, caótica, violenta, virulenta: necessária.

Em mim,
circo viaja.
Gira,
carrega,
se apega,
se apaga.


Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A educação pela pedra

. . .

o campeão