(diálogo)


(telefone no meio da noite. Ele acorda, aborrecido)

- Alô.
- (chorando) Oi, amor. Sou eu.
- Ah. Oi.
- Te acordei, né? Desculpa. Vou deixar você dormir.
- Bom, agora que já acordou fala.
- O quê você disse?
- (suspira) Nada, amor. Pode falar. Qual foi o problema?
- Eu tive um pesadelo.
- Grande merda.
- O quê?
- Eu perguntei como foi o pesadelo.
- Horrível. Foi com você.
- Ah, obrigado.
- Não, desculpa, eu não quis dizer que foi horrível porque foi com você. É que, no sonho, a gente terminava.
- (desinteressado) É mesmo? Por quê?
- Não lembro. A gente brigava porque, segundo você, eu nunca ouvia o que você tinha pra dizer.
- Quanta perspicácia.
- Hã? Repete amor, a ligação tá muito ruim.
- Eu disse "que sonho estranho".
- Pois é. Mas a gente tá bem, né?
- Sim, sim.
(pausa)
- Sabia que te amo?
- (mais aborrecido ainda) Sabia.
- E você me ama?
- Amor, são quatro da manhã...
- Mas você me ama?
- (suspira fundo) Não.
- Hã?
- Não. Eu não te amo. Eu não aguento mais ouvir você ronronando "eu te amo", "eu te amo". Cansei de ficar repetindo a mesma coisa da boca pra fora. Agora vou te falar a verdade. Eu não te amo. Acho você uma chata. Ouviu? Um porre! Vai procurar alguém que te ature!!
- (pausa) Não ouvi nada, amor, repete?
- Não! Não caio mais nessa! Você finge que não ouve só pra fazer o que quer e eu embarco nessa. Acabou! Pára de se enganar! Enfrente as consequências! Você é feia, chata e uma estúpida e não te amo! Foda-se! Eu quero mais é que você vá se foder e me deixar em paz!!!
(desliga, joga o celular num dos cantos do quarto, apaga a luz e encosta a cabeça no travesseiro. Pouco depois, o telefone toca de novo. Ele resmunga, levanta-se, tateia o chão até encontrar o aparelho, atende)
- Alô!!!
- (chorando) Amor, a ligação tava muito ruim, não deu pra ouvir nada. Vou mudar de operadora, juro. O quê você disse?!
(suspira. coloca a mão no rosto)
- Eu disse que te amava também.
- Ah. Que bom. Bem, vou deixar você dormir. Desculpa ter te acordado.
- Não foi nada...
- Amanhã a gente se vê?
- Claro...
- Boa noite, querido.
- Foda-se.
- Hã?!
- BOA NOITE!
- Ah, tá. Beijo.
(desliga o celular e volta a jogá-lo no chão, desta vez com força)


Comentários

  1. hahahhahahhahahhah, bem ODETE de unidos na vida e na morte. Adorei! rs!

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