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Mostrando postagens de abril, 2019

no bar

Fazia uns quinze minutos que o cara tava me encarando. Finalmente, quando eu já pensava em ir embora dali, ele se levantou do balcão do bar e caminhou até minha mesa. - Com licença. – ele disse, sorrindo. - Não, obrigado. – respondi. - Mas ainda não falei nada. - Você veio me dar uma cantada ou pedir meu telefone. Agradeço, mas não estou interessado. - Não é nada disso. Eu só estava admirando seu bigode. - Oh. Obrigado. - É um belo exemplar. Tem presença. Algo como uma mistura de Freddy Mercury com Saddam Hussein. Seu bigode não é um bigode, é uma declaração de princípios. - Que exagero. – murmurei, lisonjeado. - Quer vender? - Vender o quê? - O bigode. Faço coleção. Pago bem. - Você coleciona bigodes?! - Porque a surpresa? Tem quem colecione capa de celular. Garrafa de cerveja. Eu coleciono bigodes. Cada um é único, sabe. Não é só o corte. Os pelos crescem de maneira diferente em cada rosto. Influem vários fatores: a grossura do pelo, o efeito da gravidade, a curvat

1001 Filmes: de 84 a 88

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 84) "Que horas são aí?" ("Ni na bian ji dian", 2001) 
 Tsai Ming-liang é um dos queridinhos do circuito de cinema "de arte". Nascido na Malásia, fez carreira em Taiwan, onde realizou, até o momento, dez longas-metragens. Venceu prêmios em festivais importantes, como Veneza e Berlim. "Que horas são aí?" é o seu quinto longa.  
 Este foi o primeiro filme de Ming-liang que vi e certamente não será o último. Minimalista, sensível, o filme é uma jornada sentimental - e, em certas ocasiões, extremamente bem-humorada - sobre os descaminhos de três pessoas: um vendedor ambulante de relógios cujo pai morreu recentemente, sua mãe e uma moça que ele conhece rapidamente antes dela se mudar para Paris. 
 Desde o início, percebe-se a presença de temas caros aos cineastas independentes na virada do milênio: a incomunicabilidade, o choque cultural causado pela globalização, o mal-estar causado pela tecnologia. O vendedor, apaixonado pel

alguns textos

"O MEME" Se alguém te disser que é possível ficar famoso por levar uma bolada na cara, você não acreditaria. Mas é verdade. Aconteceu comigo. Era 11 de dezembro de 2005. Eu tinha cinco anos. Um vídeo de vinte segundos, os mais longos da minha vida. Na imagem, você pode me ver segurando uma bola gigante de plástico, pintada como um globo terrestre. Fazia parte de uma exibição no shopping center, ou algo assim. À direita, meu tio Osvaldo segura a bola e manda que eu me afaste. Assim o faço. Ele chuta o globo, que voa pelo ar antes de acertar minha fuça em cheio. Lembro claramente desse momento. Sinto algo estourar na bochecha e meu corpo é jogado para trás. O vídeo, filmado pela tia Nara, mostra o momento em que sou nocauteado e vou ao chão, de braços abertos como Jesus.                 Era para ser um simples momento de comédia familiar, como seu tio bêbado pulando na cama até quebrar ou o cachorro puxando a saia de sua mãe com os dentes. Deveria provocar uma ou duas