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Mostrando postagens de julho, 2015

o jogo

A caravana de um sábio persa, a caminho do Gujarate, e a de um embaixador indiano, a caminho de Khorasan, cruzam-se na metade do caminho, às margens do Amu Darya. Os dois homens se abraçam e beijam-se, como se fossem velhos conhecidos. Imediatamente, decidem pousar a noite nas terras de um senhor da guerra. À luz do fogo ancestral, trocam histórias sobre santos sufis e imperadores que reinaram muitos séculos antes de Alexandre. Para passar o tempo, o indiano retira do alforj e um tabuleiro de satranç, jogo das terras hindus que o persa conhece profundamente, e começam a jogar. As partidas se sucedem em ritmo enfurecido, com os dois exímios duelistas a ganhar e perder na mesma proporção, sem que um obtenha vantagem considerável sobre o outro. - Sabe, Excelência - diz, a certo momento, o sábio persa -, o satranç é conhecido como a mais perfeita simulação da guerra. Há o rei, que deve ser protegido pelos peões e cavalos, e os bispos, em eterno conflito com as torres. E a rainha

2035

- Jackson! Jackson Antônio, venha aqui a-go-ra!! - Oi, pai. - "Oi, pai", uma ova. Andei vendo seu perfil no Facebook. Diga pra mim, quando foi a última vez que você postou alguma coisa? - Sei lá, pai... - Pois eu respondo: faz cinco dias. CINCO DIAS. O que você acha disso? - Normal, ué. - Normal coisa nenhuma! Quando eu tinha a sua idade, postava todo dia! Quatro, cinco vezes por dia! Pergunta pra sua mãe! Elizabete, quantas vezes eu postava no feice quando a gente começou a namorar? - Seu pai não parava de postar. - Isso mesmo! E aí vem você, postando uma coisinha de nada a cada cinco dias, Jackson Antônio... deprimente, viu. - Não vi nada de interessante, pai. - Não importa. Posta uma porcaria qualquer. Uma foto de comida, uma foto de gato, música, sei lá. O importante é ficar na crista da onda, fazer com que todo mundo te veja, meu filho. Olha só: esse teu amigo, Felipe Richards, tem post pra cacete. Deve postar toda hora. Deve ter aquele aplicativo telepático n

p

This ill-defined concept of loving and living I've never quite known what to make of it. I recall staring at puddles as a child, while the others played. Staring at the ripples fabricated by raindrops. I should say I was pondering the meaning of life, But I was not. My mind simply wandered, like a blind man in the midst of a thunderstorm, Purposelessly. Later, I was taken with horizons, wide expanses, feeling my sight struggling to fill the vast space with undefined emotion. Even during social gatherings, Flirtations, romantic entanglements, my mind always returned to those ethereal moments under the stars, the free skies, boundless landscapes, empty surroundings. I feel too much at ease with the void. I fear I get too close to it.

Na ponte

Eu estava andando em direção à Ponte Boa Vista, o Capibaribe mais fedorento do que de costume, quando enxerguei uma aglomeração na boca da ponte. Vi uma pequena multidão de cinquenta curiosos rodeando uma equipe de filmagem, onde, no centro, uma sorridente repórter convidava as pessoas a se aproximarem. Ao seu lado, um grande quadro branco, desses de escola, exibia um mapa-múndi do tamanho de uma pessoa. - Quem quer tentar o desafio? Quem quer? - gritava a moça, como se vendesse banana na feira. - É muito fácil, - disse, mirando a câmera - É só acertar o país com o nome e você pode ganhar duzentos reais! Uma promoção da TV Magia! A audiência olhava a cena, dando risinhos nervosos. Ninguém se atrevia a dar um passo à frente, então tomei a iniciativa e levantei o braço. - Um candidato! Palmas pra ele! - exclamou a repórter, e os curiosos responderam com aplausos murchos. Em seguida, a moça explicou o jogo: a produção daria o nome de um país e eu deveria apontar sua localização no mapa