1001 filmes: de 129 a 133


129) "Conspiração do silêncio" ("Bad day at Black Rock", 1955)

Dirigido pelo grande John Sturges (“Fugindo do inferno” e “Sete homens e um destino”), “Conspiração do silêncio” funciona como uma versão do faroeste “Matar ou Morrer” (1952), ambientada nos tempos modernos. Assim como o filme com Gary Cooper, a ação se passa durante poucas horas em Black Rock, uma cidade isolada de tudo. John MacReedy (Spencer Tracy, excelente), um misterioso forasteiro de um braço só, chega de trem para encontrar um amigo japonês, mas se depara com a hostilidade da população local. Suspeitando que algo aconteceu com seu amigo, ele enfrenta os capangas do fazendeiro Reno Smith (Robert Ryan) para tentar descobrir o segredo que a cidadezinha esconde. O roteiro enxuto consegue manter a tensão com poucos elementos e cenários: impossível não sentir o cerco social se fechando em torno do protagonista. Um dos primeiros filmes a discutir o racismo anti-japonês presente na sociedade americana, recém-saída da Segunda Guerra Mundial. Destaque para os durões Ernest Borgnine e Lee Marvin em começo de carreira.



130) "A cidade do desencanto" ("Beiqing chengshi", 1989) 

Premiadíssimo fora da China, seu país natal, o diretor Hou Hsiao-Hsien passou a maior parte da vida em Taiwan, onde filmou este belo épico familiar sobre os anos difíceis do pós-guerra e da independência da ilha, declarada em 1949. De forma sensível, o diretor retrata a vida de quatro irmãos (um deles interpretado por Tony Leung, que poucos anos depois atingiria o estrelato com os filmes de Wong Kar-Wai, como “In the mood for love”, 2000), suas relações com o comércio, a política e a criminalidade taiwanesa, tentando manter, ao mesmo tempo, a família unida em meio às transformações históricas. Temas complexos são tratados com extrema sensibilidade e concisão por Hsiao-Hsien, que também oferece um olhar meditativo sobre a natureza e a geografia de Taiwan. Belíssimo filme.



131) "O último chá do general Yen" ("The bitter tea of general Yen", 1933)

É difícil imaginar que Frank Capra, o mesmo diretor de filmes tão adorados como “A felicidade não se compra” (1946) e “Do mundo nada se leva” (1938), possa ter dirigido esta bomba. Um dos filmes mais esquecíveis do diretor, o drama se passa durante a guerra civil chinesa, quando uma missionária americana (Barbara Stanwyck, que faz o que pode) é sequestrada por um senhor da guerra chinês (interpretado pelo dinamarquês Nils Asther, num constrangedor caso de “yellowface”) e por quem se apaixona posteriormente. Acometido por uma forte dose de exotismo e estereótipos, “O último chá...” não consegue escapar de ser um dramalhão pedestre da Hollywood dos anos 30, com personagens rasos e previsíveis. Mesmo a inovação em retratar a atração sexual entre uma ocidental e um oriental - romances interraciais eram raríssimos na época do lançamento - não impediu o filme de envelhecer muito mal.



132) "Três anúncios para um crime" ("Three billboards outside Ebbing, Missouri", 2017)

Para mim, um dos maiores mistérios da lista dos “1001 Filmes...” é a inclusão deste drama social sem pé nem cabeça. Apesar da boa atuação de Frances McDormand no papel principal (que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz) como uma mãe que instala “outdoors” no intuito de convencer a polícia de sua cidadezinha a encontrar o assassino de sua filha, o filme de Martin Donagh (diretor do também aclamado mas insuportável “Na mira do chefe”, de 2008) é um amontoado de clichês de filmes policiais, combinados a um estranho senso de humor negro que aparece nos momentos mais inoportunos. Com personagens mal construídos e irritantes e uma trilha sonora que quase sempre surge fora de hora, “Três anúncios...” é um filme de situações mal-resolvidas que me deixou com um gosto ruim na boca.


133) "O criado" ("The servant", 1963)

Espécime perfeito da contracultura inglesa, “O criado” deveria ser mais conhecido que o monótono “Blow-up” de Antonioni (resenhado aqui), oferecendo um mostruário muito mais instigante do conflito de classes e da liberação sexual que marcou os anos 60. Na tradição de filmes como “A regra do jogo” (1939) e “Assassinato em Gosford Park” (2001), o filme tem como pano de fundo a guerra de nervos entre um empregado doméstico (Dirk Bogarde, perfeito) e seu patrão almofadinha (James Fox). Com a entrada em cena da noiva do patrão (Sarah Miles) e a suposta irmã de Bogarde (Wendy Craig), os papéis sociais são constantemente desafiados e trocados, fazendo surgir uma estranha simbiose entre os dois jovens. O diretor Joseph Losey, especialista em dramas psicológicos e provocadores, toca com muita verve em tabus caros à sociedade inglesa, entre eles o forte clima homoerótico entre os dois protagonistas.



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