O quê aconteceu com nossos sonhos de liberdade?

O quê aconteceu com nossos sonhos de liberdade?
Que fim levaram aquelas magníficas promessas
que diziam que iríamos transcender,
de forma magistral e jamais vista,
esta forma decantada e derruída?

O quê esperar de nossas esperanças?
Quando morreram nossos projetos de infância?

Aos oito anos,
eu queria ser policial, detetive e astronauta,
convencido de que era possível
dedicar oito horas por dia a cada carreira.
Eu dormiria na nave.
Não pretendia libertar ninguém além de mim mesmo,
eu estava disposto a abraçar o futuro para matar o medo.

Aos trinta e oito anos,
o medo se apodera de mim.
Distante está qualquer possibilidade de sonho.
Sou mastigado pelo cinismo,
degluto meias-verdades e vomito alguma imitação da vida.

Um véu cai sobre meus olhos,
tão pesado que nem a morte pode erguê-lo.
Eu olho através de meus amores
e me satisfaço simplesmente por continuar vivo.
Eu cuspo e vomito, escrevo e respiro.

E não há muito que esperar lá de fora.
Talvez algum simulacro de simulacro de simulacro,
talvez uma canastra suja.

O quê aconteceu com nossos sonhos de liberdade?
O gato comeu, o tempo roeu,
meus barcos voltaram todos aos seus portos,
menos um.

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