1001 filmes: de 59 a 63


59) “Vem dançar comigo” (“Strictly Ballroom”, 1992)

 Antes de estourar com a versão MTV de “Romeu + Julieta” (1996) e “Moulin Rouge!” (2001), o australiano Baz Luhrmann chamou atenção com este divertido musical. Muita breguice, personagens caricatos, muita pluma e paetê, muito luxo: é uma boa sessão da tarde, com direito a um triunfante número final ao som do clássico mela-cueca “Love is in the air”, mas não sei se deveria figurar numa lista de filmes para serem vistos antes de morrer. Folhetim exagerado por folhetim exagerado, fico com “Moulin Rouge!”. Vale pela montagem frenética, marca registrada de Luhrmann, e os números de dança bem coreografados.





60) “Quando fala o coração” (“Spellbound”, 1945)


 Ingrid Bergman e Gregory Peck interpretam uma psiquiatra e seu paciente, um homem que pode ou não ser um assassino. Ela, naturalmente, se apaixona por ele. “Spellbound” é uma tentativa precoce de fazer suspense psicológico, numa época em que a psiquiatria ainda era vista com desconfiança pelo grande público (a ponto de forçar o produtor David O. Selznick a inserir uma “explicação” sobre a psicoterapia no início do filme).


No fim das contas, porém, o filme não passa de uma velha perseguição ao “homem errado”, com dois ou três truques cinematográficos, como a alardeada sequência do sonho criada por Salvador Dalí. Hitchcock já tinha dirigido uns trinta longas antes de fazer este filme, mas ainda não havia despontado como o diretor que deixaria sua marca eterna na história do cinema. “Spellbound” pode ser visto como um prelúdio, bom mas irregular, para aquele que realizaria, nos anos 1950, clássicos como “Um corpo que cai” e “Janela indiscreta”.





61) “Deixa ela entrar” (“Låt den rätte komma in”, 2008)


 Eu havia assistido à (inferior) refilmagem americana, de 2010, e gostado da releitura do mito do vampiro. Neste filme original sueco, uma menina vampira (Lina Leandersson, excelente) se torna amiga de seu vizinho, um menino (Kare Hedebrant) ainda mais sinistro que ela. O melhor do filme é a variedade de temas abordados (amizade, despertar sexual, contágio, empatia, humanidade), que são mais sugeridos que mostrados, numa demonstração de sutileza rara para um filme de terror.

 “Deixa ela entrar” pode ser descrito como o filme de terror para quem não gosta de filmes de terror – sua profundidade dramática evita heroicamente os clichês do gênero. O talento do diretor, Thomas Alfredson, ficaria patente mais uma vez com “O espião que sabia demais” (2011), boa adaptação do livro de John le Carré.





62) “Conto de inverno” (“Conte d´hiver”, 1992)


 De todos os cineastas da Nouvelle Vague, talvez Eric Rohmer tenha feito os melhores filmes após a era de ouro do movimento, nos anos 60. Truffaut era o ultra-romântico, Godard era o iconoclasta, mas Rohmer, com seus contos quase pedestres sobre dilemas de gente ordinária, envelheceu melhor do que os outros dois diretores (com a notável exceção de “A mulher do lado”, 1983, de Truffaut, e “Elogio ao amor”, 2001, de Godard). “Conto de inverno” é uma pequena jóia tardia da Nouvelle Vague: a história de uma moça apaixonada que perde o amor e o reencontra, passando por desencontros com os quais todo espectador pode se identificar. É um filme grandioso em sua banalidade, uma delícia de ser visto.




63) “O anjo azul” (“Der blaue Engel”, 1930)


 Há filmes que são mais conhecidos pela imagem icônica que deixam do que por sua qualidade. “O anjo azul”, nesse caso, pode ser visto como injustiçado, pois, apesar de seu nome remeter imediatamente à figura enigmática de Marlene Dietrich dançando e cantando num decadente cabaré alemão, também traz uma boa história. Um professor severo e reprimido (interpretado pelo lendário ator Emil Jannings) acaba soltando a franga no dito cabaré e se apaixonando pela personagem de Dietrich. A queda moral do professor reflete à da própria Alemanha do entreguerras, a chamada “República de Weimar”, um período regado a porralouquice e “joie de vivre” que teve fim com a ascensão de Hitler em 1933 e o início do pesadelo nazista.

 Dietrich encarna bem o papel que a tornaria uma diva. Infelizmente, porém, sua personagem Lola Lola não passa de mais uma das “femmes fatales” recorrentes no cinema e teatro alemães de época. Diáfana e inconsequente, é mais um instrumento de perdição dos homens do que um personagem de carne e osso, semelhante à também icônica (e quase homônima) Lulu de “A caixa de Pandora” (1929), lançado na mesma época.

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