1001 filmes: 54 a 58



54) “Assim caminha a humanidade” (“Giant”, 1956)

Diz bem o título original: “GIGANTE!” Paixões desenfreadas se desafiam numa locomotiva de emoções! Grandes astros, grandes locações, uma grande história! Três horas e meia, quase a metade de um filme de super-herói da Marvel! Mas sério, “Assim caminha…”, com os astros Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean, é o protótipo do cinemão-épico-hollywoodiano, da estirpe de “Os dez mandamentos” (lançado no mesmo ano, aliás).

Para quem gosta de filmes pequenos e artísticos, seria de torcer o nariz, certo? Arrá, errado! O filme dirigido por George Stevens surpreende, com uma história cativante, ambientada na febre do petróleo no Texas na primeira metade do século vinte, contando com bons personagens e temas instigantes como racismo e luta de classes. A direção de fotografia é primorosa, com as planícies desérticas do Texas em primeiro plano. Atenção para um jovem Dennis Hopper, em sua primeira atuação no cinema como filho do galã Hudson. O maior ponto fraco é o personagem de Elizabeth Taylor, boa atriz mas cujo personagem, o da típica jovem rebelde que acaba se acostumando ao casamento, não tem muita latitude. 



55) “Partie de campagne” (1936)

Infelizmente, nada mais existe desse filme delicioso dirigido pelo grande Jean Renoir, exceto 40 minutos de material remontado pelo diretor após a Segunda Guerra Mundial. Ainda assim, é possível vislumbrar a genialidade de Renoir nesse curto ensaio, adaptado de um conto de Guy de Maupassant, sobre o despertar do amor no campo francês. Simples e singelo na medida certa.



56) “A turba” (“The crowd”, 1928)

Os últimos anos do cinema mudo provavelmente viram alguns dos melhores filmes da história: “Nosferatu” (1922), “Em busca do ouro” (1925), “Napoleão” (1927), “Aurora” (1927), “A paixão de Joana D´arc” (1928)… era como se a indústria tivesse atingido o ápice da criatividade, com equipes e diretores arrojados e um público aberto a ousadias artísticas. A introdução do cinema sonoro em 1927, porém, provocou um efeito disruptivo, que o cinema demorou quase uma década para superar.

“A turba”, apesar de não ser um dos grandes clássicos do cinema mudo, merece lugar de destaque como um filme que, a exemplo de seus contemporâneos, explora todas as possibilidades da montagem e da câmera. Partindo de uma premissa simples - a relação de um casal na grande metrópole -, o diretor veterano King Vidor engendra metáforas visuais de riqueza e pobreza, amizade e ciúme, de grande força expressiva. O plano em que a câmera “passeia” por janelas e escritórios de um arranha-céu, reforçando a anonimidade do indivíduo na grande cidade, é memorável.



57) “Muito além do jardim” (“Being there”, 1979)

Hal Ashby foi um dos melhores diretores do cinema independente norte-americano dos anos 70, época dos “easy riders” Coppola, Scorsese, Spielberg e Altman. Ainda assim, é um dos diretores menos conhecidos da época, tendo dirigido menos de uma dúzia de títulos, como “Ensina-me a viver” (“Harold and Maude”, 1971) e “Amargo regresso” (“Coming home”, 1978). Nenhum outro, porém, sabia dirigir atores como Ashby. Seus personagens, por mais bizarros que sejam, carregam uma verdade capaz de comover qualquer espectador. É como se ele não tivesse esquecido que, antes da câmera, cenografia e figurino, o maior instrumento de um diretor é o ator. O melhor roteiro do mundo não sobrevive a um diálogo mal conduzido.

Em “Muito além do jardim”, o talento de Ashby se alia a um dos melhores comediantes da história, Peter Sellers, aqui em seu canto do cisne (morreria pouco tempo após as filmagens). Sellers interpreta um jardineiro que, encerrado a vida toda em seu jardim, mantém a inocência de uma criança e acaba manipulado pela política. O filme perde um pouco de ritmo em seu terço final, mas Sellers, talvez em sua melhor interpretação, brilha do começo ao fim, uma estrela de candidez perdida num mundo sórdido. E Ashby, que se especializou em personagens desajustados, brilha junto.




58) “Bravura indômita” (“True grit”, 2010)

Como Quentin Tarantino, os irmãos Coen parecem dedicados já há algum tempo a investigar os gêneros do cinema norte-americano. Às vezes acertam, como no excelente neo-noir “O homem que não estava lá” (“The man who wasn´t there”, 2001), às vezes erram feio, como na comédia “Queime depois de ler” (2008). “Bravura indômita”, faroeste que já teve versão com o lendário John Wayne, foi um grande acerto. 

Jeff Bridges, cuja carreira ganhou sobrevida com o grande “O grande Lebowski” (“The big Lebowski”, 1998) dos Coen, aqui refaz o papel de Wayne como o xerife caolho Rooster Cogburn, contratado por uma menina (a excelente Hailee Steinfield) para capturar o assassino de seu pai. Josh Brolin e Matt Damon aparecem no meio do filme, mas as estrelas do filme são mesmo Bridges, num de seus melhores papéis, e o roteiro sempre inspirado dos Coen, que emula perfeitamente o linguajar do Velho Oeste do século XIX. Se os diálogos são, quase sempre, a melhor parte de um filme dos irmãos Coen, os de “Bravura indômita” são dignos de serem pendurados numa parede.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A educação pela pedra

. . .

o campeão