Desafio "1001 filmes": 44 a 48
44) "A canção da estrada" ("Pather panchali", 1955)
Drama indiano preto e branco, com duas horas de duração? Sem número musical? Delícia! Não, sério. O menino Apu (inspiração para o personagem dos The Simpsons? Mentira!) tenta sobreviver no meio das brigas familiares de sua casa no meio da floresta. Apu vai para um lado. Ouve-se cítara. Apu vai pro outro. Toca cítara. A vovó bicentenária de Apu é expulsa de casa. Cítara. A vovó volta. Cítara. Esqueça Mogli, o menino-lobo, e todas as versões açucaradas de H(B)ollywood: aqui está o verdadeiro clássico indiano. Satyajit Ray saiu na porrada com Glauber Rocha e ganhou o prêmio de cineasta mais cult de todos os hemisférios. É bom, papai Smurf? É muito bom. O primeiro da trilogia de quatro filmes.
45) "A qualquer custo" ("Hell or high water", 2016)
O título em norte-americano significa "inferno ou água alta". É uma expressão, curso Fisk. OK. Faroeste moderno, mas sem cavalo e gente morrendo de escorbuto. Dois irmão fudidos (o capitão da Enterprise e um galego) assaltam bancos para pagar a hipoteca da fazenda deles. É uma espécie de Robin Hood no deserto, com a diferença que roubam dos ricos para dar a si mesmos. São perseguidos por Jeff Lebowski, que deixou o boliche para virar (olho na rima) xerife. O filme é tão politicamente incorreto que o Dude tem um ajudante índio de quem ele fica mangando o tempo todo. Não tá certo isso. É bom, Vigilante Rodoviário? É muito bom.
46) "Viy - a lenda do monstro" ("Viy", 1967)
Filme soviético de monstro! Comunista também borrava a calça! A história não faz sentido algum mas o filme é bom, talvez justamente por não fazer sentido. Um rapaz voa na garupa da vassoura de uma bruxa, depois tem que ficar trancado com o cadáver de uma moça recém-falecida, enfrentando as investidas das forças do mal. Torci pro monstro. E falando em monstro...
47) "Drácula de Bram Stoker" ("Bram Stoker´s Dracula", 1992)
Deu a louca no vampiro! Francis Ford Coppola faz o filme mais apapagaiado de todos os tempos, contando pela enésima vez a história do mais famoso sanguessuga. Drácula é condenado a passar a eternidade com uma bunda branca na cabeça. Parece desfile da escola de samba Unidos do Morcego: tudo é exagerado, a cor, as atuações, etc., parece mistura de Garotos Perdidos com a Hora do Espanto. Mas é bem divertido. Aquele é Tom Waits de camisa de força? Anthony Hopkins com cara de tio do pavê? Gary Oldman faz a velhinha, Winona Ryder faz o crush do vampiro e Keanu Reeves, bem, faz o que pode.
Na primeira vez que ouvi o título, pensei que fosse uma versão equina de "Robocop". Já podia ler a sinopse atrás da capa da fita: "Pangaré que volta dos mortos se torna uma máquina de guerra contra o crime. Um lançamento América Vídeo". Lançador de mísseis na crina, coices com ferraduras de titânio, essas coisas. Mas não, é sobre um cavalo na Primeira Guerra Mundial. OK. Vamos lá. Deve ter bomba, pelo menos. Mas é dirigido pelo Spielberg. Puta quil paril. É algo como "Corcel Negro"? Sim. Quer dizer, não. É como "O violino vermelho": o alazão troca de dono mais do que presente comprado em loja de R$ 1,99, sofre o pão que o diabo amassou para que, no final, Spielberg tenha ordenhado dois litros de lágrima do teu olho. Vale a pena? Tudo vale a pena. Mas eu preferia coices de titânio.
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