Desafio "1001 Filmes": 35 a 42


35) "O ato de matar" ("The act of killing", 2012)

Se o seu sonho é se enrolar em posição fetal e ficar chorando e lembrando das desgraceiras do mundo, assista a este filme imediatamente. Se não, bem... assista de qualquer maneira. É um documentário-cinema verdade-ficção-fantasia de serial killers na Indonésia-documentário que não pode ser visto sob nenhuma hipótese sem provocar grandes doses de indignação e assombro. Cenas surreais e inesquecíveis.


36) "A viagem dos comediantes" ("O thiasos", 1975)

Ano passado, comecei a escrever um conto sobre um viajante do futuro que vinha para uma cidadezinha brasileira no séc. XIX para salvar seu ancestral de ser morto por um latifundiário escravocrata. Era pra ser uma mistura de "Exterminador do futuro" com Monteiro Lobato, com muito jargão inventado de ficção científica. O clímax da história era a luta final entre o herói e o latifundiário, também vindo do futuro, em que os dois percorriam séculos num instante enquanto se golpeavam com foices. Tirei a idéia da expressão "briga de foice". Confesso que fiquei tão perdido na premissa, porém, que não consegui escrever foi nada.

(acabei colando o parágrafo acima por engano, era pra ter mandado num e-mail pra um amigo. Fica do jeito que está. "A viagem dos comediantes" é um filme de arte grego de quatro horas de duração, interminável mas bom.)



37) "Alma em suplício" ("Mildred Pierce", 1945)

Pra quem reclama das traduções ridículas que alguns filmes gringos recebem no Brasil (como descrever a nojeira de ver "The hangover" lançado aqui como "SE BEBER, NÃO CASE"?), deve ser curioso constatar que os títulos brasileiros dos anos 40 e 50 eram frequentemente MELHORES do que os títulos originais. Afinal, "UM CORPO QUE CAI" (1958) é muito mais poético do que o mixuruca "Vertigo" (vertigem) de Hitchcock. E o que dizer de "ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE" (1956) ("gigante" no original)? "DESENCANTO" (1945) é uma boa tradução, ainda que meio genérica, para "Brief encounter" (breve encontro), belíssimo filme inglês de David Lean. E por aí vai.

Tudo isso pra dizer que "ALMA EM SUPLÍCIO" é um título que provoca muito mais vontade de ver o filme do que o título original, "Mildred Pierce", ainda que elimine o trocadilho do sobrenome da heroína. "Pierce" é um nome próprio mas também significa "perfurar" em inglês. É quase "Mildred Perfura", o que também não deixa de ser um título interessante.


Me perdi.


38) "O estranho" ("The stranger", 1946)

Você conhece "Cidadão Kane", certo? É igual a este filme, com a diferença que, aqui, Orson Welles interpreta um nazista foragido da Segunda Guerra Mundial, o cenário é uma cidadezinha americana e a história não é um drama, e sim um suspense em tempo real. É como "24 horas", sem Kiefer Sutherland, no pós-guerra e em preto e branco. E tem o mestre de todos os filmes de gângsters, Edward G. Robinson, interpretando um mocinho. Pensando bem, "O estranho" não tem nada a ver com "Cidadão Kane". Mas é bom.


39) "As pequenas margaridas" ("Sedmikrásky*", 1966)

* = tive que copiar e colar o nome do IMDb.

Duas moças fazem a maior lambança no ensaio de vanguarda-feminista-experimental-bombástico da tcheca Vera Chytilová*. É como se um filme de Chaplin fosse dirigido por Godard: estranho e familiar ao mesmo tempo. Muito bom, interessante e divertido e, pra quem não gosta, termina rapidinho. Tem uma das melhores cenas de jantar da história do cinema, em que as moças viram a mesa de um banquete de pernas pro ar. Traga as crianças para a sala.


40) "Eles e elas" ("Guys and dolls", 1955)

Não gosto de musical, mas não dá pra negar que Frank Sinatra e Marlon Brando (cáspite, Don Corleone cantando?!) dão um show de carisma aqui. Infelizmente, as duas personagens femininas principais (Jean Simmons e Vivian Blaine) não passam de escadas para os dois galãs, e seus números musicais são bem fraquinhos. A produção do filme deu o maior rebu na época, porque Sinatra queria o papel principal para ele e ficou boicotando Brando, que sabia cantar um pouco melhor do que uma galinha gripada. Como eu sei disso tudo? Porque eu leio EGO da Globo, ora essa.



41) "Gertrud" (1964)

Depois de "As pequenas margaridas", mais um título feminista pra lista. Gertrud é uma senhora casada que passa o rodo na macharada: insatisfeita com o marido político, ela vai atrás de um jovem compositor enquanto evita um ex-amante e escritor chorão que fica puxando a saia dela. No meio do caminho, muito papo e cara séria olhando pra câmera. Não esqueçamos que este é um filme do dinamarquês Carl Dreyer, mestre de Ingmar Bergman, e há poucas coisas que os nórdicos gostam mais do que filmar caras sérias em papos existencialistas sobre a vida, a morte, etc.  


42) "Cabaret" (1972)


Todo mundo cantando e dançando enquanto o nazismo não vem.

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Todas as opiniões aqui expressas são da inteira responsabilidade do autor, não coincidindo necessariamente com as posições do órgão público cujos quadros o autor integra.


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