diplomata moderno


Eu falo de Istambul como se fosse o bairro de São José,
troco de passaporte como de cueca,
menciono um taxista que peguei em Nova York certa vez,
falo francês, finjo um pince nez,
uma guerra civil, uma festa na Embaixada,
eu falo de Roma como se tivesse sido na semana passada.

Eu sou feliz,
diplomata moderno feliz.

Bebo para me lembrar da felicidade.
Pois! Bebamos,
falemos de chefes e viagens, do dinheiro e da falta do dinheiro,
de como todo mundo acha que um diplomata moderno vive em festa,
eu vivo em festa.
Eu compro a Monocle e com o iPhone posto no Facebook minhas últimas proezas.

No meio dessa orgia de modernidade, um Vinicius 
faux, nem ligus
para os pares de olhos que ficam
no Brasil.
Tento me esquecer das pensões alimentícias, dos divórcios,
dos estresses, dos ócios,
do jet-lag, da vontade imperial
de chefes e ministros,
da escola dos filhos.

Às vezes só quero ficar só.
Às vezes só quero voltar a sentir o cheiro da terra molhada e da xepa da feira em São José,
de tomar uma com meus amigos,
longe dos bazares de Istambul e dos táxis de Broadway Square.

Não, eu não sou Vinicius,
Vinicius já morreu. Ele nunca existiu
e você por aí, inquilino de lugar algum.


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