manifestações em Portugal
Estão marcadas para daqui a pouco, em Lisboa e dezenas de outras cidades, grandes manifestações contra a política de austeridade do governo português.
Não vou. Fui a outra passeata convocada pelo mesmo grupo em novembro passado e não creio que esta será muito diferente. Ademais, sempre me sinto um peixe fora d´água nessas ocasiões, quando inevitavelmente me lembro de que este não é o meu país e esta não é a minha luta. Não sei se o governo - daqui ou do Brasil - teria a capacidade de adotar política distinta daquela praticada até agora, vide as circunstâncias difíceis que envolvem a recuperação econômica da Europa e o futuro de Portugal. Fico em casa, portanto, mas lerei com atenção os jornais de amanhã para saber como correu o protesto. Espero que não haja feridos, ao contrário do que tem ocorrido por aqui. Os ânimos estão exaltados.
Minha memória subitamente evoca outras manifestações que presenciei no Brasil, Irã, França... cada uma delas, uma promessa de mudança que invariavelmente terminava em gente dispersada rumando para casa ou para algum passatempo diurno, como visitar um amigo ou ir ao cinema, todas aquelas grandes reivindicações deixadas em compasso de espera até a semana ou o mês seguinte, quando novamente os descontentes pintavam suas faixas e resgatavam seus megafones do armário, esperando enfrentar a maré quase irresistível da História escrita pelos vencedores.
Não quero com isso insinuar que o protesto público não passa de um gesto fútil ou ingênuo. Por ora, enquanto as próximas eleições ainda pairam longínquas no horizonte, trata-se de uma das poucas maneiras que os anônimos possuem de se fazerem ouvir pelo governo. Penso apenas que não é sábio superestimar o real impacto de cada uma dessas manifestações. Tomadas em conjunto, desencadeadas por meses a fio e afastando-se do vandalismo perigoso dos radicais, porém, é possível que resultem em alguma coisa.
Por ora, prefiro mil vezes o rumor das ruas ao silêncio resignado do povo. Aquele pode ser desconcertante, mas este é simplesmente assustador.
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