turistas
Moro na zona mais turística da cidade, lotada de casas velhas, praças decadentes e toda aquela bobajada que turista adora visitar e onde sente a estranha necessidade de tirar milhares de fotos de todos os ângulos imagináveis só porque algum idiota famoso mijou ali perto ou coisa parecida.
Acho engraçado tal raça de gente, sempre com as roupas destoando do resto do povo, câmeras digitais, malas, mochilas sacolejando, sacolas, mapas e guias nas mãos, coçando a cabeça, se estão acompanhados vão se sustentando um ao outro, se vão em família seguem em matilha fechada, os gestos amedrontados, os passos incertos, não sabem se vão pra frente ou pra trás, se seguem a recomendação desta placa ou daquela indicação oferecida por um local que mal arranha o inglês, a repetir de mão esticada, "é por ali, por ali". Dá-me a impressão que, sempre que se visita outro país, emburrece-se um pouco.
Não é o meu caso. Nunca saí do país, de modo que não corro o risco de me tornar um turista, exceto em minha própria terra. Mas costumo ser muito hospitaleiro. Sempre dou informações, mesmo quando não sou consultado. Basta ver alguém com um guia em sueco no meio da rua, tentando decifrar seus mapas e aplicá-los à geografia visível e fedorenta das ruas, que lá estou, solícito com meu inglês de lanchonete, apontando para lá e para cá, tentando arrecadar meus trocados espirituais para o Dia do Juízo Final.
Só tomo um cuidado: nunca forneço a informação correta. Acho um despropósito dizer a alguém que deseja conhecer coisas diferentes para onde ele deve ir. Acredito piamente que um visitante deve se perder na geografia visível e fedorenta das ruas; a desorientação é uma necessidade do turismo. Longe de mim interferir nesse processo de descoberta. Portanto, quando alguém me pergunta onde é tal igreja ou tal museu, respondo firmemente que é para aquele lado, seja lá qual lado for, e se por acaso conheço o sítio mencionado, faço questão de apontar a direção oposta, munido da fisionomia dos sábios. Jamais a mim me acusarão de arruinar a brincadeira dos outros.
Apenas uma vez apontei a direção certa a um casal que perguntava pelo museu de sei quê lá. Eles agradeceram e seguiram pela ruazinha estreita que indiquei, onde, desconhecido de todos menos por mim, havia um bueiro aberto na calçada, oculto por um monte de folhas. Ela caiu primeiro, arrastando o namorado pela mão. Sempre achei lindo casais que andam de mãos dadas.
Sim, acredito que viajar deve ser uma atividade imprevisivel.
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