o óbvio
Ah, é você. Entra.
Sim, fui eu quem mandou aquelas acusações pra imprensa. Sei que vai refutá-las. Deveria. Mas não vai adiantar nada. Sua carreira está arruinada. Seus filhos vão cuspir na sua cara. Sua mulher vai te deixar. Espero que goste da solidão. Mesmo que não vá pra cadeia, cairá num inferno pior.
Nenhuma mulher vai voltar a olhar pra você, jamais. Está flácido. Provavelmente nem consegue botar teu negócio pra cima.
O porquê? Como assim, por quê? Eu te invejo. Não é óbvio? Sempre invejei. Sempre quis tuas coisas. Acho você um bosta. Um bosta que nunca mereceu o que tem. Eu é que devia ter tido uma vida como a sua. Mas agora é tarde. Pra mim, pra mudar o rumo da minha vida, e pra você, pra recomeçar do zero. Estamos os dois no fundo do poço e ninguém vai jogar corda nenhuma. É isso. C´est ça. Acabou.
Que é isso na sua mão? Uma arma? Que clichê. Vai fazer o quê? Me matar? Uuh, que medo. Olha só, estou tremendo de medo. Cagão. Você não tem coragem pra puxar esse gatilho. Eu sei. Não passa de um frouxo.
Tava pensando agora. Por quê falam em "puxar" o gatilho, se a gente aperta? Aperta, não aperta? Quer ver? Aperta aí.
Ai. Que coisa, achei que não tivesse a coragem. Muito bem. Mas ainda acho que... hnf... que você é um cagão... isso... vai embora... vai... olha pro. Espelho. Olhe... pra ele. Olhe... e se lembre... de... mim... olhando... pra você.
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