eros e tanatos


Fellatus. Em retrospecto, ele realmente deveria ter pedido a ela para parar. Mas estava tão bom. Ao diabo, se o distraía da direção. Ao diabo, se podiam bater. Ao diabo o cuidado com a velocidade, a ultrapassagem na faixa única, cinto de segurança. Por uma vez na vida, despacharia tudo para o inferno, aproveitaria o bom humor da esposa, embarcaria na aventura, teria algo pra contar aos amigos no chope da sexta-feira. 

Cantou os pneus na curva seguinte. Ela fez menção de erguer a cabeça, mas ele gentilmente pousou a mão em seus cabelos sedosos, afagando-os, uma mensagem surda de que tudo corria bem.

Gozou antes do esperado. As pernas, até ali relaxadas, retesaram-se num espasmo involuntário, pressionando o acelerador até o chão. Sentiu a alma escorrer da boca, gorgolejou um gargarejo gutural, estrangulado, de alívio e heroísmo. Despejou. Vivia.

Terminava de exalar um suspiro, a esposa a lhe lamber a virilha com carinho, quando não encontrou o fim da estrada. O precipício se aproximava vertiginosamente. Em menos de um segundo, sua mão puxava a tranca, sua perna o empurrava para fora, seu corpo rolava no barro em segurança enquanto o veículo prosseguia a mortal trajetória, projetando-se numa parábola perfeita no espaço.

O instinto o salvara. A razão, porém, invadiu-o com fúria. Lembrou-se aterrorizado de que a largara com a boca cheia de porra, no interior de um bólido metálico despencando a quarenta metros do solo.


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