cisne


Bebo café numa xícara. É bege, estilo antigo, flores pintadas ao redor, lasca arrancada da asa. Mas a xícara não existe. O café está frio. Esperei muito antes de tomar. Mas não há café. O tempo não existe. O café esquentou novamente, posso bebê-lo. A asa se encontra perfeita, sem uma única falha. A xícara flutua no ar. Eu não existo. Seguro uma caneta. Não, um lápis. Digito a palavra "digito" no teclado. Substituo o "d" pelo "D". A meu lado, uma xícara fumegante. Bebo: é chá. O líquido escorre para cima, que agora é embaixo, e bato com a cabeça no teto, que agora é chão. Consulto o relógio. São oito e vinte e três da noite. Dez e cinquenta e um da manhã. E quarenta segundos. Vinte e cinco. Lituânia. O tempo não existe. Ouço uma voz feminina vinda da cozinha a gritar que o café está pronto. Mas moro só. E sou surdo. E analfabeto. E você não existe. Bom dia.


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