um país que eu entenda


Este país não se entende, compreende, meu irmão? Este país não se entende! Por isso vou viajar pra longe, que é pra fugir deste país incompreensível, ouviu, Rodrigo? Desta esfinge! Desta charada, deste trava-línguas de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e 191 milhões de habitantes*, desta cama-de-gato! Vou escapar, vou fugir, vou me evadir e ninguém vai se lembrar de mim, o que é ótimo porque eu não quero me lembrar do que não entendo.

Vou ler o Correio Braziliense pela Internet e olhe lá. Ver as fotos nas capas dos jornais e olhe lá.

Se der saudade do bolo de rolo ou da rede de dormir, mastigo qualquer coisa doce e me espreguiço num sofá.

Se der saudade dela, mando buscar.

Está ouvindo, né, Rudy?

Não quero mais este país, dá-me dor de cabeça só de pensar! Cadê o passaporte, pr´eu rasgar?

Não quero mais as angústias, o calor, o medo; quero um país cuja geografia eu possa inventar, um país fácil.

Quero apreciar o verde-amarelo nas partidas da Copa e nas havaianas que ela me deu de presente. O resto, podem ficar.

Vou aprender inglês melhor que o português e me mandar pros States.

Não quero saber que o Brasil está na moda, se é cenário de filme e capa de revista, se o Lula é admirado no Peru e Dilma, na Bulgária, vou arrumar meus trecos e partir.

De volta pra Europa, de volta pra África, não importa, não tem volta.

Pouco interessa, se chegar a moça com o rosto cheio de promessa, o sorriso franco, o jeito esperto. Aqui não dá.

Entretanto...


* = decorado para a prova do Rio Branco.


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