a dama das bromélias
Eu tinha uma colega no primeiro ano de faculdade que era muito linda, toda baixinha, magrinha, de vestido solto, que andava descalça pelos corredores do Centro de Artes e Comunicação. Dançava nos intervalos. Na primeira vez que a vi, disse comigo mesmo: quero essa mulher pra mim.
Um dia, encontrei-a sozinha no jardim do campus, desenhando a carvão.
Oi! (ênfase minha)
Oi.
Tá desenhando o quê?
Essa bromélia.
Bromélias! Minha musa bicho-grilo rabiscava bromélias! Deixei-a em seu furor artístico, certo de que pertencíamos a cantos opostos do Universo e que, tristemente, jamais nos possuiríamos. Nunca mais a reencontrei.
Anos depois, eu passeava numa floricultura com minha namorada quando me vi subitamente diante de um buquê com as flores que minha nereida hippie desenhava naquela tarde de sol. Exclamei:
Bromélias!
Uma vendedora aproximou-se. Desculpe, senhor, mas essas são azaléias.
Tenho certeza de que isso é uma bromélia, retorqui, apontando a flor com o dedo. A vendedora apenas sorriu com aquele sorriso que reservamos aos patetas e afastou-se em seguida.
Deixou-me contrariado. Teria minha ninfa me enganado deliberadamente, fazendo-me crer que desenhava bromélias e não azaléias? Mas que propósito poderia ter? Teriam azaléias algum significado que ela buscava ocultar, talvez temerosa que eu pudesse interpretar mal seus sentimentos ao vê-las? Será que ela mesma se enganara? E, afinal de contas, fazia alguma diferença?
Como você pode confundir uma com a outra?, perguntou minha namorada. Bromélias têm folhas compridas e grossas. As pétalas de uma azaléia são largas e delicadas. Não têm nada a ver.
Minhas lembranças perderiam o viço, caso eu soubesse a verdade?
Eu não entendo nada de flores, respondi.
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