donne


Antoine de Saint-Exupéry escreveu que eu sou responsável por aquilo que cativo,
mas não, eu não sou responsável por nada,
Antoine de Saint-Exupéry era um escritor que desapareceu num desastre de avião,
e no momento preciso em que despencou dos céus, quem era responsável por ele?
Antoine de Saint-Exupéry nunca me conheceu

e assim caminho, imerso numa irresponsabilidade atroz, a sucessão de horizontes a me distrair
da banalidade, das pequenas surpresas, do roteiro diário.

"Eu não sou responsável por nada",
por quê este trovão me soa tão libertador e tão escravocrata?
"Eu não sou responsável por nada",
expele fumaça e permanece suspensa, sobre as cabeças no café escuro.

Posso cortar a âncora e zarpar rumo ao imenso azul profundo,
à deriva, presa das tempestades. Meu barco é diminuto, meu barco.

Posso divagar pelo deserto sem fim,
apreciando a paisagem, mas sem torso quente que me abrigue da noite selvagem.

Posso gritar tudo o que penso
no vácuo.

Posso exercer o governo
de mim mesmo.
Executivo, Legislativo, Judiciário, agências e Ministérios,
de decretos imediatamente cumpridos.
Mas não tenho agentes que alcancem o confim mais distante de mim,
Governo do Eu Sozinho.

Uma ilha não é um continente,
é só mais um barco.

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