diálogo


- Gosto de ti de graça.
- Sério.
- Duvida? Gosto de tudo. Do que é bom e do que é ruim. Até do que você não gosta de si.
- Fala, mas não crê seriamente nisso.
- Creio.
- Digo qualquer coisa que te parte o coração.
- Impossível.
- Olha lá.
- Tenta. 
- Olha que tento.
- Vai.
- Eu fingi cada orgasmo.
- Mas ainda estás comigo.
- Gosto do teu melhor amigo.
- Gosto que meus amigos sejam amigos de minhas namoradas.
- Dormi com teu melhor amigo.
- Dorme com ele mas fica comigo.
- Dormi com teu melhor amigo só pra te ferir.
- Se quer me ferir é porque pensa em mim.
- Não. Só quero tuas coisas.
- Então fica com tudo. Se ficar comigo, te consigo ainda mais coisas.
- Tenho horror do seu corpo, seu cheiro.
- Então ama-me pela minha conversa. És sofisticada.
- Também tenho horror à tua voz.
- Perco meu fôlego, não consigo falar perto de ti.
- Dá-me náuseas o cotidiano, a fidelidade, a hipótese de ficar contigo até a morte.
- Considero superestimado o casamento.
- Odeio tua mãe.
- Também não me dou lá muito bem com ela.
- Um dia te infecto de propósito com uma doença venérea.
- Padeceremos juntos.
- Boto veneno na tua comida e te vejo morrer lentamente.
- Se fores tu a cozinhar, elogio o prato.
- Te chamo de puto. De pederasta, hipócrita, impotente, fraco, covarde, bato em mim mesma e saio à rua dizendo que foi tu.
- Eu assumo. Compartilharemos nós dois a verdade, como um segredo querido.
- Insulto teu Deus.
- Ponho-te no lugar Dele.
- Torturo-te.
- Me redime pela dor.
- Mas estás impossível hoje.



Comentários

  1. Esse tá ótimo, bem rodrigueano!! Prefiro mesmo os seus contos, mas vc é bom em tudo que escreve, rapaz!
    Abraço!

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