diálogo (2)

- ...

- ...

- Posso ajudar?

- Oi?

- Posso ajudar em alguma coisa? Por que, pelo jeito que você tá olhando minha namorada, parece que tá precisando de alguma coisa.

- Gastão, não faz isso.

- O amigo se enganou. Não estou olhando pra ela.

- Não é o que parece.

- Não estava mesmo. Ela nem faz o meu tipo.

- Deixa de provocar briga, Gastão.

- Peraí, bem. E qual seria o tipo do senhor?

- Vamos parar por aqui, sim?

- Nãããããão, eu quero saber, se o "amigo" diz que não está encarando minha namorada porque ela não faz o seu "tipo", eu quero saber a que tipo se refere. As mulheres acompanhadas, por acaso?

- Normalmente, eu prefiro as solteiras.

- Dá pra parar, vocês dois?

- Além do mais, eu me atraio por mulher mais... mais... com atitude, entende?

- Como assim?

- Mulher que se impõe. Com vozeirão. Sobrancelha grossa, cara de poucos amigos. A sua namorada é muito...

- Muito o quê?

- Menininha. Parece bobinha, vozinha fina. Desculpa.

- Gastão, vamos emb... epa, como é que é?

- Estou vendo que o senhor gosta mesmo é de mulher com jeito de homem.

- Bobinha? Vai pra merda.

- Pode ser. Eu quis dizer mulher cavala, com maçã do rosto saliente, músculo no braço, mão firme. Que seja mais forte do que eu, sabecomoéqueé, que dê aqueles beijos que deixa a boca doendo depois.

- Menininha é o cacete. Sou mais velha que ele.

- Eu já fiquei com mulher mais forte que eu.

- E aí?

- Gastão, não quero ouvir essas coisas.

- Bicho, foi massa. E a mulher tinha umas tatuagens.

- O melhor é que essas não ficam se preocupando o tempo todo em depilar a perna, fazer a sobrancelha, essas merdas.

- Não tem problema nenhum em fazer a sobrancelha. Seus... feministas.

- Isso! A perna dela pinicava. Era interessante. Mas ela raspava o sovaco. Sei lá, acho fundamental.

- É, sovaco peludo é foda.

- O meu é lisinho! Ó!

- Com todo o respeito, moça, você usa muita maquiagem. Isso faz a pele perder o aroma natural, aquele cheiro meio de suor.

- Eu vivo dizendo isso, mas ela insiste em botar todo dia duas toneladas de pó na cara.

- Eu gosto, tá?! Me sinto bem assim.

- Você podia se soltar mais. Deixar o cabelo mais desgrenhado.

- A amiga ficaria muito bem de cabelo solto.

- Isso até posso fazer... mas só se eu tiver vontade.

- E engrossar um pouquinho a voz.

- Eu sou mulher, porra.

- Espere, foi ela que disse pra mim quase agora pr´eu ir à merda. Isso mostra atitude.

- Nossa, meu, ela parece toda menininha na rua, mas na cama fica muito louca.

- Gastão!

- Senta na mesa da gente, meu.

- Só se a sua namorada não se importar.

- Vocês parando de falar intimidades minhas, tudo bem.

- Bração, coxão, vozeirão numa mulher é tudo de bom.

- Juro que eu não estava olhando mesmo pra ela.

- Não esquenta.