minha


Perdi o Rio. Ai de ti, Copacabana, e de todo o resto.

Perdi o Flamengo, o Largo do Machado, a Casa Mattos ao lado do McDonald´s do Largo do Machado, o Colégio Bennett defronte à floricultura em Botafogo.

Perdi chopps em noites à beira-mar em Olinda. Perdi Natal e seu mormaço. Perdi as chuvas de Brasília, as chuvas de janeiro no Sudoeste, as leituras nas manhãs chuvosas de janeiro na Biblioteca Central da Universidade de Brasília.

Perdi a barca noturna da Praça XV até Charitas. Perdi chopps no Arco do Teles, na Lapa, no Gragoatá.

Perdi noites estranhas em São Paulo, perdi os muros carrancudos de concreto que nunca me entenderam de São Paulo. Perdi as estrelas que se viam refletidas no Capibaribe defronte ao Teatro Apolo na Rua da Aurora.

Perdi tudo isto. Mas tudo bem. Por que elas nunca me pertenceram de verdade.

Se alguma vez pensei que elas me pertenciam, enganei-me redondamente.

Nunca foi minha a estudante de jornalismo que roncava um bocadinho. A de direito que rosnava um pouco quando ria. A advogada. A arquiteta.

Nunca foram minhas e jamais serão. E ainda bem.

Icaraí continuará aí, espraiada silenciosa pela orla vazia. Jamais será minha. E ainda bem.

O deserto de Yazd prosseguirá sob sua pálpebra de estrelas. Os fogos de artifício seguirão sua trajetória, singrando a Chaharshanbe Suri na noite fria de Teerã. E ainda bem.

A que me aquecia nessa noite fria jamais será minha. E ainda bem.

A que me queria e que depois me teve, e quem eu quis e que depois a tive, essa jamais será minha, jamais será de ninguém. E ainda bem.

Não sou um homem possessivo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A educação pela pedra

. . .

o campeão