CINEMA
Hoje, Cinema ligou. Disse que estava muito puta com meu sumiço. Tentei explicar que tive muito o que fazer nos últimos anos, trabalho, relacionamentos, morar fora e tal, e era por isso que não havíamos nos falado nos últimos tempos.
- Bullshit. - respondeu, imitando Bogart. - Você já não liga a mínima pra mim faz tempo.
Trepliquei com toda a doçura. Nós ainda vamos voltar, defendi. Mas eu mesmo sabia que não colava, ela me entendia, estava dentro de mim, da mesma forma que estava em 1998 durante aquelas solitárias soirèes no Recife com Murnau e Glauber, assim como estava comigo em 2003, quando viajei a Niterói e pareceu que finalmente iríamos nos casar.
- Tratou-me como todas as outras. - amargou - Foi se fazendo de desentendido e, quando te chamei, já estava longe.
Fiz um muxoxo e olhei pela janela do café, pois nunca sei o que dizer quando sou confrontado com a verdade. O céu de Lisboa se preparava para chorar de novo.
- Mas não te enganei. - reagi, finalmente.
- É fato. Mas poderíamos ter vivido tantas coisas. É pena.
- Sim, é pena.
Pausa. Nenhum dos dois desliga. Som ambiente. A chuva começa a cair. Fina, de início. Detalhe de minha mão segurando o celular. Som das gotas contra o vidro. É DIA.
- P-primeiro plano.
- Hã?! - exclamou Cinema do outro lado da linha.
- Primeiro plano. - repeti - Falo no telefone celular. Ao fundo, um janelão dá para a rua.
- Sim!
- Um janelão dá para a RUA, onde pedestres caminham de um lado para o outro. Após alguns segundos, uma bela MULHER do outro lado da calçada me reconhece no interior do café. Atravessa a rua. A PORTA abre, tocando um pequeno sino.
- Meu querido!
INT. CAFÉ. DIA
A MULHER, jovem e vestida elegantemente, fala no telefone celular. Chama-se CINEMA, tem 125 anos e, apesar da idade, ainda é muito atraente. Está radiante e grita ao telefone enquanto agita as mãos para mim:
CINEMA
(gritando)
Meu amor!!
=)
ResponderExcluirObviamente os homens nao possessivos sempre atraem mulheres totalmente possessivas. É um castigo do destino, hehehe:) Gostei:)
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