líbia



Um amigo se aproxima com notícias da Líbia:
- Uma revolução, compreende?! - Segura-me forte o antebraço e agita o punho, como se estivesse a bradar na praça central de Trípoli pela queda de Kadafi. - Esse cleptocrata está no poder há 42 anos! O povo quer democracia! O povo quer pão!
E eu, que já tenho democracia e pão, só quero Valéria.
- Um vento de liberdade varre o mundo árabe! É nosso dever, como homens livres, ajudar a florescer a chama da justiça! -, grita, qual Repórter Esso. O garçom se aproxima e pede que falemos mais baixo, o restaurante é de família, os senhores compreendem.
Meu amigo continua a tagarelar sobre as particularidades do processo de formação histórica das nações magrebinas, as demandas mais-que-justas do povo. Da rua, um menino brasileiro estende a mão pela janela pedindo uma esmola. Meu rebelde o ignora:
- O pan-arabismo de Nasser virou uma piada de mau-gosto nas mãos de gente como Kadafi, Ben Ali, Mubarak! As promessas do socialismo árabe, entende! As promessas do socialismo árabe! Uma terceira via, enfim!
O menino ainda ficou mais uns cinco minutos antes de partir, insistindo por um trocado com a voz baixa. Voltou cinco anos depois, a voz mais grossa e um .38 cano curto.


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