a posse de Dilma

Ontem, uma mulher vítima de tortura durante a ditadura militar tomou posse como Presidenta do Brasil.

Preferências políticas à parte, tal paradoxo salta aos olhos. Uma mulher que atuou na guerrilha armada, contra o regime de exceção que se instalou entre 1964 e 1985, tornou-se a maior autoridade política do País, 35 anos após o fim da ditadura. Diga-se de passagem, após sete anos do governo de um líder popular e carismático também perseguido e preso pela ditadura.

Reitero que estes são fatos, e não reflexos de preferências minhas por este ou aquele partido.

Vejo este simples fato como uma vitória da sociedade brasileira. Ele demonstra que as forças que geraram o regime de exceção, que estimularam a perseguição, a tortura, o exílio de desafetos políticos, enfim, que instauraram um clima de medo no País, foram derrotadas e/ou perderam força diante da necessidade de mudança. Em pouco mais de uma geração, foram derrotadas.

Naturalmente, a questão não é tão simples. Muito brasileiramente, aquelas forças se imiscuíram e ainda estão presentes em alguns estratos e algumas atitudes da elite, mesmo das classes médias, no Brasil. Mas este gene, agora, é recessivo. É passado. Finalmente, chegamos ao consenso que há questões muito mais sérias - a desigualdade de renda e a pobreza, acima de tudo - para lidarmos na América Latina do que a "ameaça comunista", um espectro dos anos 60 e 70 que serviu de desculpa para semear tanta dor em nosso continente.

Em tempo: o progresso do País não está garantido apenas por termos uma mulher ex-torturada no Palácio do Planalto. Há muitas outras questões envolvidas além dessas. Mas não devemos esquecer a História, sob pena de repeti-la. Simbolicamente, é muita coisa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A educação pela pedra

. . .

o campeão