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eu quero ir pra casa
mas não tenho mais casa,
queimei a minha casa

e agora o mundo se estende
diante de mim.
ele é grande, mas não é casa.

eu posso ir pra qualquer
lado. eu posso sorrir
em todos os meridianos, todas as latitudes
posso visitar.
agora sou capaz de ver todos os rostos
e cheirar todos os pescoços.

mas porque isso só me lembra
que não tenho mais lar?
que não posso resgatar
o chão de casa, o cheiro das coisas,
a idade favorita, tão sentida
que já passou, para não mais voltar.

temo que nem cheguem perto do sol da minha infância
as luzes das noites do mundo.

receio que os gostos desses becos vastos
empalideçam diante do sabor úmido do passado.

sei que gostos se contrapõem, se sucedem
e que o passado é mais fácil que o presente.
mas está difícil, está difícil.

*

eu não quero estar aqui
e quando aqui não mais estar
não desejarei estar em outro lugar
além daquele de onde parti.
a isso chama-se saudade. isso é muito brasileiro.

desejarei sentir a rua da fumaça das castanhas
e as moças de corpo bonito e suéter apertado.

*


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