soneto de culpa
Tu, tu, somente tu que me deste
um fragmento de semente carcomida,
o único ser sob o tapete celeste
que me ofereceu a esmola querida.
Eis minha gratidão: meu apreço
por me ter salvo da miséria e da fome;
presenteio-te com a praga e o insucesso,
submeto-te aos dentes dos que não comem!
Podes esperar tudo de um faminto,
menos gratidão. Inexiste
para mim esse vocábulo burguês.
A fome de mim um animal já fez
e se protestas com o dedo em riste,
Recorda-te: que fome jamais sentiste!
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