À massa de gente no final do dia
À massa de gente no final do dia, que atravessa a cidade para chegar em casa. Quero crer que você é feita de carne, de amores e anseios, e não apenas roupa e desespero. Quero crer que, detrás dos faróis vermelhos que tremulam no ar incerto da tarde, habitam homens, mulheres e sonhos detrás de cabeças curvadas e esgares tristonhos. É difícil enxergar além do cansaço. Não há poesia após o cansaço. Somente alívio. O grito apaixonado da liberdade normalmente é ouvido entre as nove e as onze da manhã. Mas quero crer que algo resta dentro desses carros, desses casacos, atrás dos volantes. Algo que viverá depois que se troque de roupa, algo que flutuará sobre o jornal e a sopa. Uma profecia, uma alucinação, uma dúvida que despertará na manhã seguinte, algo que assombra, algo que vive no meio da massa mas tem medo de dizer o seu nome.