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Mostrando postagens de janeiro, 2019

À massa de gente no final do dia

À massa de gente no final do dia, que atravessa a cidade para chegar em casa. Quero crer que você é feita de carne, de amores e anseios, e não apenas roupa e desespero. Quero crer que, detrás dos faróis vermelhos que tremulam no ar incerto da tarde, habitam homens, mulheres e sonhos detrás de cabeças curvadas e esgares tristonhos. É difícil enxergar além do cansaço. Não há poesia após o cansaço. Somente alívio. O grito apaixonado da liberdade normalmente é ouvido entre as nove e as onze da manhã. Mas quero crer que algo resta dentro desses carros, desses casacos, atrás dos volantes. Algo que viverá depois que se troque de roupa, algo que flutuará sobre o jornal e a sopa. Uma profecia, uma alucinação, uma dúvida que despertará na manhã seguinte, algo que assombra, algo que vive no meio da massa mas tem medo de dizer o seu nome.

Resenha: "A guerra do fim do mundo" (1981)

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Há livros que representam verdadeiros pontos de inflexão em nossa vida cultural. A leitura d´“Os sertões” de Euclides da Cunha foi, para mim, um desses marcos. Tudo no livro é antológico: a linguagem cientificista, tão em voga na época do lançamento e que Euclides eleva ao ponto da excelência poética; a descrição detalhada da geografia do sertão e da formação humana do sertanejo, culminando na crônica da Guerra de Canudos; e o testemunho pessoal do autor, que, longe de corroborar a narrativa oficial de civilização “versus” barbárie, levanta numerosos pontos de interrogação sobre o embate entre soldados e jagunços. Ao final da leitura, eu havia chegado à conclusão que Euclides tinha esgotado o assunto. Pensei que ninguém teria a maestria necessária para retratar novamente o conflito em Canudos com o mínimo de talento que o tema exige. Felizmente, eu estava enganado. Foi necessário um peruano para dissecar, desta vez no âmbito ficcional, o episódio ocorrido no sert...