(sem título)
Não faz muito tempo, passei por uma época negra em minha vida. Foi quando meti na cabeça a tolice de querer ser escritor. Desse ponto em diante, tudo o que compunha minha vida, meus conhecidos, os lugares que visitava, voltou-se para esse único objetivo fugaz, essa obsessão inconsequente de que eu poderia me sustentar com o que escrevia. Acreditei nessa quimera o suficiente para deixar a casa de meus pais e alugar um apartamento barato na periferia, e devo ter sido bastante convincente, pois minha namorada resolveu fazer o mesmo e fomos morar juntos em nosso novo cafofo do amor. Infelizmente, minha convicção não se revelou veemente o bastante a ponto de vencer minha lendária preguiça, de modo que, passados seis meses, o saldo de minha aventura literária se resumia a quatro contos em séria necessidade de revisão e dois meses de aluguel atrasado. Comíamos duas refeições por dia com os restos que minha namorada trazia do restaurante fast-food onde trabalhava, e eu, um Balzac ti...