safira
Busão lotado, viagem de hora e meia para um dia gasto sentado diante do computador, piorando a tendinite na mão direita, quando o que eu mais queria era caçar safiras nas selvas de Timbuctu.
- Timbuctu fica no deserto.
- Não importa. Queria estar lá, somente.
Almoço no PF do quarteirão, feijão com gosto de soda cáustica, comer em pé porque não há lugar no balcão. Será que a soda cáustica que usam no banheiro tem gosto de feijão? E como é que eu sei o gosto de soda cáustica?
- Não tem safira no deserto?
- Larga dessa. Contente-se com as pequenas coisas. A conversa com os colegas, o elogio do patrão. Levar a namorada pro cinema. Esse papo só vai te deixar insatisfeito, amargo. Leia a Bíbilia. "Sê simples".
Mais uma hora e meia na volta, duas horas grudado na Internet, falando com a prima de Goiás. Menciono Timbuctu, ela fala da vez em que visitou Brasília. Pergunto se há safiras por lá.
- Larga dessa.
Os reis de Samarcanda se entendiam? Alguma vez, os vizires de Damasco, os califas de Bagdá enjoaram de voar em tapete voador e já sonharam em acordar cedo, pegar um ônibus lotado e trabalhar numa salinha pequena e mofada, sem ar condicionado?
- Isso é fantasia. - ligo a TV. Atentado suicida em Bagdá, nove mortos. E o califa?
Noite quente, barulhenta. Suando no lençol, sonho com um monte de esmeraldas.
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