papo de gordo


Adotei uma lasanha. Seu nome é Dorothy. Tinha que ver Dorothy comigo, reluzente, a capinha de queijo brilhando contra o sol enquanto a gente pedalava no parque - ela na cesta e eu pedalando, naturalmente -, a cara de assustada dela quando eu fingia que ia comê-la, que lasanha linda de meu Deus, sapeca, fofinha!


Depois de uns quatro dias, começou a apodrecer, então botei ela num tupperware e enfiei no freezer. Isso ajudou, mas, depois de um mês, ela voltou a apresentar sinais de mofo em sua pele enrugadinha. Não resisti e abri o tupperware, estava toda verdinha, coitada. Jurei comigo mesmo que iria ajudá-la a melhorar.

Mas como? Pensei o dia todo até encontrar a solução: comê-la. Dorothy viveria em mim.

Destampei o tupperware e estava pronto para devorá-la, mas o cheiro nauseabundo que emanava dela quase me fez desmaiar. Tapando o nariz, forcei-me a engolir os bocados de Dorothy, enquanto lutava contra violentas convulsões que repentinamente tomaram conta do meu corpo. Finalmente, não aguentei e vomitei na pia da cozinha as poucas garfadas que havia logrado empurrar garganta abaixo e tudo o mais que tinha no estômago. O resto da lasanha, voltei a guardar no freezer, ansiando para que, um dia, eu tivesse dinheiro suficiente para manter Dorothy em estado criogênico até que inventassem algo para restaurá-la à mocidade.

No dia seguinte, porém, Dorothy desapareceu. Suspeitei de Deise, minha diarista. Já coloquei anúncio em classificados em busca de Dorothy e tudo, mas não recebi nenhuma ligação fora uma louca dizendo que era Napoleã e um cara me oferecendo um boquete por vinte contos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A educação pela pedra

. . .

o campeão