o bode


Tinha chamado Ari para conversar sobre nossa relação, botar os pingos nos is. Fazia tempo que eu queria isso, então estava feliz. Preparei uma lasanha e arrumei a casa. O que eu não esperava era que ele trouxesse um bode consigo.

- Porra, Ari.
- Desculpa. Não tinha com quem deixar.
Tão logo os dois entraram, o bode se soltou da coleira e foi comer a planta que eu tinha comprado não fazia uma semana. O danado continuou devorando, mesmo depois que gritei para que se afastasse.
- Mas não é possível, Ari, eu já disse quantas vezes pra você não aprontar mais uma dessa?
- Achei necessário.
- Fiz uma comida gostosa pra gente, tinha se organizado toda pra nós resolvermos a situação de uma vez por todas… e olha o tamanho do bode que você traz pro meio da sala. Papelão, hein?
- Também não precisa gritar, Liliana.
- Olha, ó ele lá, comendo minhas revistas. Sai! Se ele chegar perto do meu sofá, juro que mato ele, estou avisando.
- Deixa ele. Que tal a gente sentar e conversar sobre o que a gente tem pra conversar?
- Impossível. Agora só vou ficar prestando atenção nesse bicho. Não vou conseguir falar sobre mais nada.
- O bode nem é tão grande assim. Não sei porque tanto grito.
- "Nem é tão grande assim"? Ele é quase do meu tamanho!
- Quanto exagero. Você sempre foi assim.
- É você que sempre minimiza a importância das coisas. Arimar, ele tá mastigando o meu sofá, tira ele daqui!
- Tá bom. Mas e a conversa?
- Vai ficar pra outra ocasião! E nunca mais traga esse bode pra sala!
- Olha, é bom você amadurecer sobre coisas do gênero, Liliana. Bodes sempre vão existir. O que não pode acontecer é deixar que eles destruam a relação da gente.
- Não destruindo a minha mobília, tá ótimo.
- Ah, é assim? Então você nem liga mais pra nós, pro que a gente construiu, é isso?
- Não! É que… tsc, sei lá, Ari, eu não consigo explicar com esse bode olhando pra mim.
- Oquei. Desculpa. Não trago ele mais aqui.
- Tá. E, amanhã, passa aqui à tarde, tomar um café. Pra gente conversar. 
- Combinado. Tchau.
- Tchau. E deixa esse bode em casa. Senão, dá bode (risos). 


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