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1001 Filmes: de 192 a 220

192) "A festa de Babette" ("Babettes gæstebud", 1987) Aparentemente, este drama dinamarquês consta de uma lista de filmes recomendados pelo Vaticano, o que dá uma boa indicação da falta de controvérsia que o rodeia. Leve, sensível, delicado, um Bergman "light", se dá pra descrevê-lo assim, "A festa de Babette" é ideal para assistir com a avó numa tarde de domingo. Não que seja ruim. O clímax do filme, em que uma governanta francesa numa aldeia perdida na Dinamarca prepara um festim para um bando de provincianos chatos, é um belo exercício sobre como retratar a comida e o ato de comer na tela (filmes sobre comida, aliás, deveriam ser um gênero cinematográfico à parte). Às vezes, dá vontade de dar um tapa na cara de algum dos personagens para incitar reações um pouco mais sanguíneas. Mas é um filme bonito, sobre família e amizade, que não insulta ninguém. 193) "A invenção de Hugo Cabret" ("Hugo", 2011) Eu queria ter gostado

1001 Filmes: de 178 a 191

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Há quem defenda que a arte não deve ter qualquer objetivo. Discordo. A expressão artística, independentemente do meio usado, tem como missão buscar o humano, seja para retratá-lo, confrontá-lo, celebrá-lo ou até negá-lo, mas sempre tendo como ponto de partida - e ponto de chegada - provocar a sensibilidade humana. Alguns filmes que tenho visto ultimamente triunfam nessa missão de fazer palpitar o coração e o cérebro. Cito, em especial, quatro deles: - “Um dia quente de verão” (1991), do taiwanês Edward Yang, poderia ser descrito como um “épico intimista”, por mais contraditória que pareça essa expressão. A sinopse quase ingênua (nos anos 60, um grupo de colegiais conhece o amor, a amizade e a violência em meio à turbulência política de Taiwan) simplifica o panorama complexo e riquíssimo que Yang constrói por meio de vinhetas com uma meia dúzia de protagonistas. Há tantos temas abordados nas 4 horas de duração - relação de pais e filhos, homenagens ao cinema, etc. - que o filme suscit

1001 Filmes: de 173 a 177

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  173) "Ladrão de alcova" ("Trouble in paradise", 1932)      Nos anos 20 e 30, o alemão Ernst Lubitsch era o rei das comédias "finas", onde condes e ricaços trocavam tapas de luvas de pelica e o humor pastelão de filmes como os do Gordo e o Magro dava lugar a trocadilhos e alfinetadas sutis. Em 1932, antes de dirigir "Ninotchka" (1939) - deliciosa comédia cujo maior atrativo era ver a sisuda sueca Greta Garbo sorrindo - e "Ser ou não ser" (1942, resenhado aqui ), o diretor lançou "Ladrão de alcova", mais um filme com o "toque Lubitsch". Um ladrão galante, estilo Arsène Lupin, junta forças com uma trambiqueira para roubar o dinheiro de uma ricaça herdeira de uma fábrica de perfumes. O enredo é o de menos; melhor é se deliciar com a sucessão quase interminável de "gags" verbais e ironias visuais raras para um filme desse período. Genuinamente engraçado, o filme ainda traz cenas ousadas em que adultos falam qu

A(s) última(s) sessão(ões) de cinema (1001 filmes, de 144 a 172)

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      Minha paixão pelo cinema se manifesta de forma febril e voraz. Sinto vontade de ver filmes de todos os gêneros, rodados em todos os países em todas as épocas, tudo ao mesmo tempo. De maneira até atabalhoada, posso ver uma comédia inglesa dos anos 50 e, logo em seguida, um filme de terror italiano dos anos 70, ou um expressionista alemão dos anos 20, ou ainda um de ação dos anos 90. Nunca encontro em mim o rigor necessário, por exemplo, para assistir, do começo ao fim, a cinematografia completa de um cineasta ou de uma escola estética específica - "nouvelle vague", Cinema Novo, Dogma 90, etc. -, como alguns apreciam. Sinto que meus olhos pedem novidades constantes em termos de linguagem visual e métodos de atuação. Nesse sentido, só consigo assistir aos títulos da lista dos "1001 filmes para ver antes de morrer" de forma aleatória. O que poderá parecer caos aos olhos de alguns se traduz em enorme fonte de prazer para mim, ao me deparar com tantas formas diferen

1001 Filmes: de 139 a 143

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139) "A ceia dos acusados" ("The thin man", 1934) Comédia e filme "noir" são dois gêneros que normalmente não se misturam, com exceção do impagável "Cliente morto não paga" (mas esse é um pastiche). "A ceia dos acusados", porém, conseguiu produzir esse filho estranho, e foi tão bem-sucedido que rendeu cinco continuações. O "homem magro" do título original é um cientista que desaparece, e o detetive Nick Charles (William Powell) é contratado para encontrá-lo. Juntamente com sua esposa, Nora (Myrna Loy), Nick vive aventuras típicas das novelas de detetive dos anos 30 e 40: identidades trocadas, tipos durões e um longo elenco de suspeitos. Não à toa, pois o roteiro é adaptado de um livro de um dos papas do "noir", Dashiell Hammett. As piadas são boas e a química entre Powell e Loy é perfeita. O tom rápido e sarcástico torna o filme um bom exemplo das comédias "oddball" dos anos 30 - como "Irene

1001 Filmes: de 134 a 138

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134) "Lucía" (1968) Em 1968, dois filmes foram lançados em Cuba que se tornariam, com toda a justiça, clássicos da cinematografia latinoamericana. Um deles foi "Memórias do subdesenvolvimento", a amarga tragicomédia de Tomás Gutierréz Alea; o outro, "Lucía", épico de Humberto Solás. Os dois longas, cada um à sua maneira, representaram uma revisão da fase romântica da Revolução Cubana, de 1959, das aspirações e frustrações geradas pelo movimento guerrilheiro de Fidel Castro e Che Guevara. Dividido em três partes, o filme de Solás narra as histórias de três mulheres chamadas Lucía, cada uma pertencente a um período chave da história cubana (a Guerra de Independência, em 1895, as revoltas contra os ditadores populistas nos anos 30 e o período pós-Revolução, nos anos 60). Brilham, em cada um dos segmentos, as atrizes que protagonizam o papel-título: Raquel Revuelta, Eslinda Núñez e Adela Legrá. Cada uma vive uma história de amor fadada ao fra

1001 filmes: de 129 a 133

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129) "Conspiração do silêncio" ("Bad day at Black Rock", 1955) Dirigido pelo grande John Sturges (“Fugindo do inferno” e “Sete homens e um destino”), “Conspiração do silêncio” funciona como uma versão do faroeste “Matar ou Morrer” (1952), ambientada nos tempos modernos. Assim como o filme com Gary Cooper, a ação se passa durante poucas horas em Black Rock, uma cidade isolada de tudo. John MacReedy (Spencer Tracy, excelente), um misterioso forasteiro de um braço só, chega de trem para encontrar um amigo japonês, mas se depara com a hostilidade da população local. Suspeitando que algo aconteceu com seu amigo, ele enfrenta os capangas do fazendeiro Reno Smith (Robert Ryan) para tentar descobrir o segredo que a cidadezinha esconde. O roteiro enxuto consegue manter a tensão com poucos elementos e cenários: impossível não sentir o cerco social se fechando em torno do protagonista. Um dos primeiros filmes a discutir o racismo anti-japonês presente na sociedade a